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Sertanejo em alta e crise no mercado shows de Ludmilla e Ivete cancelados

17/06/2024

Ivete e Ludmilla cancelaram shows após problemas com falta de público

O cantor Léo Santana fez uma coletiva de imprensa, nesta quarta-feira (15), para comentar sobre a sua nova turnê pelo Brasil chamada PaGGodin. No entanto, o artista aproveitou para comentar sobre a crise no mercado da música, após Ludmilla e Ivete Sangalo cancelar turnê com dezenas de shows. O conhecido GG da Bahia começou lamentando o cancelamento das turnês das cantoras. Essa história da Lud e da Ivete terem cancelado envolve diversos outros fatores, que, nesse caso, eu não sei quais são. Eu confio muito no meu time, também aos contratantes, nos nossos parceiros que estão comigo quase nestes 20 anos de carreira. Então, tem muita coisa que, de fato, vai dar certo nessa turnê, declarou. Em seguida, ele explicou que o mercado da música vem passando por dificuldades. Não só devido a essas duas turnês serem canceladas, mas o mercado da música também está preocupante. Vender ingressos hoje não está fácil. Não mesmo. Tá difícil, mas a gente tem que ir para luta, não tem jeito. Ainda durante a coletiva, o artista baiano revelou que dará início aos shows de seu novo projeto de pagode romântico e a cada ingresso vendido, R$ 6 serão revertidos para ajudar as vítimas da tragédia climática no Rio Grande do Sul. O PaGGodin é a realização de um sonho de longa data, e hoje tenho o prazer de anunciar que tiramos do papel depois de um tempo planejando. Além de ser algo que eu sempre tive vontade de fazer, por minha admiração pelo gênero, também recebi muitos pedidos dos meus fãs que me pedem para entregar um trabalho nesse estilo, conta Léo Santana.

Sertanejo universitário desconhece a palavra crise e reina absoluto no mercado

Disputa por espaço em um universo nem sempre leal e ético, mas que conquistou jovens de todo o Brasil e parece se consolidar ainda mais nos últimos oito anos A não ser que você tenha se desligado completamente do que acontece no mundo e em sua ci¬dade desde o final da primeira década dos anos 2000, provavelmente você ouviu ou conhece alguns dos artistas do estilo chamado sertanejo universitário. O rótulo tem sido o responsável pelos principais sucessos da música brasileira nos últimos oito anos, e em 2015 e 2016 se tornou uma unanimidade entre as 100 canções mais executadas nas rádios do País. Os versos “Sofrimento é ma¬to/Co¬ração em pedaços/Com¬pre¬enda por favor/O meu amor me deixou”, do refrão da música “Seu Polícia”, da dupla de São José do Rio Preto (SP), Zé Neto & Cristiano, dominaram o Brasil em todas as suas cinco regiões. Não há como escapar da melodia fácil de decorar da canção que trata de um homem que se separou recentemente da mulher. De acordo com a Crowley Broadcast Analysis Brasil, empresa considerada a mais confiável no País quando se trata de ranquear as canções mais executadas, “Seu Polícia” foi o som mais tocado nas rádios brasileiras entre no ano passado. A dupla paulista faz parte do grupo de artistas empresariados pelo escritório goiano WorkShow, de Wander Oliveira, que divide os contratos da dupla com a gravadora Som Livre. A WorkShow é uma das quatro principais empresas do mercado da música comercial no Brasil. Ao lado da AudioMix, FS Produ¬ções Ar¬tísticas e Mega Produções Artísticas, a empresa lidera o ranking das músicas mais executadas e ouvidas no Brasil no ano passado e nos dois primeiros meses de 2017. E não é por acaso que a segunda música mais ouvida em 2016 em todo o País venha da mesma Work¬Show. “Infiel”, da goianiense Marília Mendonça, de 21 anos, grudou na cabeça do brasileiro. “Iêê, infiel/Eu quero ver você morar num mo¬tel/Estou te expulsando do meu coração/As¬suma as consequências dessa traição” são versos que passaram por seus ouvidos em algum momento do ano passado, admita ou não. Nos anos 1990, Goiânia tinha apenas uma casa noturna assumidamente de música sertaneja, a Pirâmide Cowboy, na Avenida Jamel Cecílio, no Jardim Goiás. Mas o momento dessa boate era outro, quando o sertanejo vivia o auge do chamado sertanejo romântico, considerada a segunda fase do estilo musical, que nasceu da cultura caipira. O gênero romântico do sertanejo, surgido na década de 1980 com duplas como Chitão¬zi¬nho & Xororó, Leandro & Le¬onardo e Zezé Di Camargo & Lu-ciano, chegou em alguns momentos ao todo do mercado musical na década seguinte, mas nunca alcançou o status de cultura jovem predominante.

Preconceito

O caipira, que estudiosos do gênero dizem ter surgido da definição indígena como referente ao interior do Brasil, teve seu predomínio nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A evolução da música caipira em sertaneja aconteceu entre as décadas de 1940 e 1950, quando pessoas do campo se mudaram para a cidade e suas canções retratavam a saudade do meio rural. Se a moda de viola, surgida da an¬dança dos bandeirantes que abandonaram as bandeiras e se fixaram no interior de diferentes Estados durante os ciclos do ouro e do café, retratava a vida bucólica do campo, o sertanejo mostrou a evolução desse estilo. Enquanto o sertanejo produzido no meio urbano mostrava um campo saudoso no qual a pessoa não mais vivia, o sertanejo ro¬mântico, quatro décadas depois, ganhou o apelido pejorativo de música de corno. Até Monteiro Lobato, em 1914, escreveu um artigo no jornal O Estado de S. Paulo no qual se referia ao sertanejo como um jeca tatu. Aquelas duplas do sertanejo romântico, muitas delas em atividade no mercado musical, rejeitam a evolução do estilo, que se tornou universitário e passou a contar com público maior, tendo inclusive aceitação entre os jovens, que antes rejeitavam a figura de atrasado ou interiorano que era negativamente ligada às pessoas que gostavam ou vivenciavam a cultura do sertanejo romântico.

Evolução

O que aconteceu com a música sertaneja, que in¬cluiu em seu estilo traços da cultura popular ao migrar para os grandes centros urbanos, foi expandir o que era caipira para os festivais da canção das décadas de 1960 e 1970, com Renato Teixeira sendo regravado por cantoras como Elis Regina. “Romaria” foi cantada por uma das cantoras símbolo da MPB em 1977. O próximo passo foi a inclusão das guitarras e instrumentos do pop rock, por exemplo, e uma aproximação maior com o country dos Estados Unidos nas melodias do sertanejo romântico. Canções como “É o Amor”, cantada por Zezé Di Camargo & Luciano em 1991, demonstraram a força de um estilo que teve sua força reafirmada com a dupla Bruno & Marrone com “Dormi na Praça”, música gravada em 2000. Apesar de “Eu não vou negar que sou louco por você/Tô maluco pra te ver/Eu não vou negar” ter rendido inclusive convite para encontrar o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (FHC), no Palácio do Planalto, o love metal sertanejo brasileiro nunca alcançou a glória que o sertanejo universitário encontrou no mercado a partir de 2009. E vale lembrar que, desde então, o estilo se fixou nas paradas, ganhou os jovens de diversas classes sociais e de lá não mais saiu. Já são oito anos com artistas, sejam eles em duplas ou carreira solo — caso de Gusttavo Lima — que ninguém tira o sertanejo universitário do topo.

Domínio do mercado

A força dos escritórios no mercado brasileiro da música, que não sabe o que é crise, se evidencia na agenda exaustiva dos seus artistas e nos números nas paradas de sucesso nas rádios do Brasil. Em 2016, apenas 13 músicas não entram no estilo sertanejo. E a competição chega a ser cruel, tanto com artistas quanto contra os concorrentes. A começar pelo investimento feito em um artista para tentar criar um novo sucesso. O Jornal Opção conversou com pessoas que fazem parte de diferentes partes do mercado da música sertaneja, desde pessoas responsáveis pela montagem de palco e montagem de equipamentos até gente ligada a escritórios que empresariam artistas na cidade. Pode até acontecer, mas é quase uma ilusão imaginar que o sucesso dos artistas do sertanejo acontece na sorte ou fruto do acaso. Acreditar que uma dupla ou um cantor solo surge de apresentações em bares, como nas histórias do tempo do sertanejo romântico, é quase um delírio em 2017. Para se firmar no sertanejo universitário, um empresário precisa comprar a ideia de que um artista é bom, cuidar da carreira dele, para, quando ele se destacar, ser contratado por um grande escritório. Aí sim vem o investimento pesado.

Augusto Diniz, Abel

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